Em conquista da autonomia

Um novo ano letivo está prestes a começar. Vale a pena ter em mente as regras e a organização do dia a dia para promover a autonomia dos mais novos.
Meninos do 2.º ciclo, morando muito perto da escola, mas fazendo as deslocações entre esta e a sua casa acompanhados pelos pais, a pé ou até mesmo de carro. Crianças que não preparam a sua pasta, tarefa que fica a cargo dos pais. Crianças e jovens que não selecionam atempadamente os materiais a levar para a escola e aparecem nas aulas sem eles, como se tal não tivesse qualquer problema. Crianças e jovens que não fazem qualquer tarefa doméstica, nem mesmo arrumam o seu quarto ou o seu local de estudo.

Estes são alguns exemplos de falta de autonomia e de responsabilidade dos nossos estudantes, frequentemente alimentados pelos pais, que, inconscientemente, no seu desejo de facilitar a vida dos filhos, a podem dificultar num prazo mais ou menos longo.

Jovens que acabam os seus cursos e ficam desempregados. Jovens a quem já foi apontado o caminho da emigração como solução para o desemprego. Outros jovens que, pelo seu mérito, conquistam a possibilidade de estudarem em países estrangeiros ou encontram aí oportunidades profissionais vantajosas. Jovens que partem para outros países, com outra língua, outra cultura, outros costumes, e onde a autonomia vai ter que ser uma realidade, tenha sido adquirida previamente ou tendo que o ser pela força das necessidades.

Se os jovens que emigram se encontram numa situação mais extrema de necessidade de competências pessoais do domínio da autonomia, esta é algo de imprescindível na vida de todos e que pode ser adquirida mais facilmente e de modo menos doloroso - ou mesmo indolor e até agradável, na forma de conquistas que se vão saboreando - quando a educação familiar não decorre num ambiente de superproteção.

Um novo ano letivo está prestes a começar. É uma altura de tomar decisões, de organizar a vida para transitar do descanso das férias para o trabalho quotidiano. Vale a pena ter em mente as regras e a organização do dia a dia para promover a autonomia dos mais novos, nunca sendo de esquecer que diferentes idades pedem diferentes decisões, e, dentro de cada idade, é necessário ter também em conta as características individuais.

Aqui ficam algumas sugestões:• A realização do trajeto entre a casa e a escola de forma progressivamente mais autónoma, tendo em conta a distância entre ambas, a dificuldade ou os perigos do caminho, os meios de deslocação possíveis, merece uma atenção que não se deve reduzir sempre à solução mais simples de acompanhar continuamente os filhos.
• A organização de um espaço de estudo, que deve estar sempre arrumado (tarefa a cargo do estudante), e a preparação das matérias escolares de forma prévia e autónoma, ainda que, se necessário, sob supervisão parental, são requisitos indispensáveis.
• A realização de tarefas domésticas adequadas a cada criança/jovem promove a sua responsabilidade, a sua autonomia, a sua preparação para a vida. Há tarefas para todas as idades, desde fazer a cama, pôr a mesa ou limpar a louça, até preparar uma lista de compras, passar a ferro ou cozinhar.

Levar as crianças e os jovens a realizarem as tarefas propostas e a adquirirem os hábitos sugeridos nem sempre é fácil. Muitas vezes custa tempo e aborrecimento aos pais, que lutam contra a resistência dos filhos. Outras vezes custam-lhes preocupações; habituados a protegerem sempre os filhos dos perigos (às vezes vistos de forma exagerada) de se deslocarem sozinhos para a escola ou de ficarem algum tempo sozinhos em casa, entre o fim das suas aulas e o regresso dos adultos a casa. O mundo não é isento de perigos nem de dificuldades.

Pensar nos riscos e nas dificuldades do quotidiano e nas formas de promover a capacidade dos mais novos para os enfrentarem de forma responsável e segura, num crescimento gradual da sua autonomia, é o desafio que proponho aos pais neste início de ano letivo.


 Armanda Zenhas | 05-09-2012 
Fonte: educare.pt